O que procurar num cavalo de trabalho?

A idéia de cavalo de trabalho formada pela maioria das pessoas, está relacionada aos muitos conceitos populares, passados de boca em boca, que quase sempre tornam o investimento da compra um pesadelo no futuro, fazendo o custo-benefício se distanciar e muito das expectativas geradas.

Na compra ou na criação, podemos dizer que para a escolha ser bem sucedida, temos que levar em conta quatro princípios fundamentais:

1- Morfologia

2- Temperamento

3- Capacidade de aprendizado

4- Material humano empregado no treinamento

Morfologia - A estrutura física do cavalo é determinante na escolha da atividade a ser desempenhada por ele. Um animal destinado a treinamento de rédeas, por exemplo, deverá possuir um equilíbrio corporal o mais próximo possível da utopia desejada; relacionando bem, tendões e ligamentos, ossos e músculos, comprimento e altura.

A massa corporal deverá ser presente, mas não ao ponto de impedir seu flexionamento, a saída de pescoço deverá ser alta e o mesmo forte e com o afogador fino (garganta), para evitar que o peso excessivo se transfira para a dianteira; a abertura de peito (distância entre os anteriores) se for muito acentuada, atrapalhará o cruzamento de mãos na hora dos "spins", a garupa deverá ser recoberta por boa camada muscular e ter a sua altura regulando com a altura das cruzes no topo da cernelha; do contrário o animal terá mais dificuldades em se reunir e em colocar a traseira abaixo da dianteira, no momento dos "esbarros".

É bom saber que o fundamento de rédeas é essencial para qualquer atividade que se faça com o cavalo montado. Indo adiante, se o interesse for no treinamento em apartação, o animal que possuir uma estrutura menor, uma linha de dorso mais curta e a garupa mais elevada, terá mais facilidades em executar as manobras de espelho com a rês, que exigem agilidade, impulsão e resistência, além do senso de gado, que é a vontade que nasce com ele de se comportar de maneira confortável e sem medo na presença dos bovinos. Em provas de velocidade, além da uma boa relação entre os mecanismos de tração e compressão nos locomotores, a musculatura dianteira das espáduas, deverá ser bem definida e a de traseira enfatizada pelo "empurrador", a musculatura das nádegas, que é a mola propulsora na hora da arrancada; é bem vindo uma linha de dorso mais longelínea e de fundamental importância um bom arqueamento de costelas, que é um indicativo de boa capacidade pulmonar.

Temperamento - Ele é um fator transmitido aos seus descendentes através dos cruzamentos, mas pode ser trabalhado durante o crescimento para ter seus efeitos negativos controlados e quase imperceptíveis na fase adulta. Todo o processo começa com o primeiro contato do animal com o ser humano; depois da sua mãe, evidentemente.

O tratador deverá estabelecer os primeiros vínculos com o potrinho já nas primeiras horas de vida. Fazer com que ele não se importe com sua presença, já pode ser considerado um bom começo. No decorrer da sua infância, os laços deverão ser estreitados ainda mais, fazendo com que o contato físico seja uma constante, pois no futuro esse procedimento se refletirá na hora da escovação, da tosquia, do casqueamento, dos passeios, do embarque e desembarque e na hora de colocar a sela.

Animais equilibrados, que se deixam pegar, manipular ... facilitam o processo de doma, de manejo e o aprendizado específico.

Contudo, como na raça humana, no meio dos normais, existem também os indivíduos inseguros, os medrosos os agressivos e os rebeldes. Nesse caso, para cada tipo de atividade sempre haverá algum caractere que poderá ser desprezado ou não levado em consideração na hora da escolha, como por exemplo: os itens acima não tem o mesmo valor se aplicados separadamente para cavalos de corrida e de apartação. Os de corrida poderiam, sem problemas, ser ansiosos e agressivos, já os destinados a apartação não.


Capacidade de aprendizado - Analisado a morfologia e o temperamento, o terceiro passo é avaliar a concentração ou a falta dela no animal, como se analisa um bom aluno. Todo cavalo jovem tem suas curiosidades e por conta disso se torna apreensivo, irreverente e reluta um pouco em aceitar a "rotina" do serviço. Isso mascara um pouco a interpretação do adestrador. No entanto, esse desconto que normalmente é dado, deve ser apreciado com cuidado. O ideal é que o aprendizado decorra com serenidade, sem retrocessos e com uma solução de continuidade, que permita no dia seguinte aproveitar pelo menos 50% do que foi aprendido no dia anterior. Esse é o perfil psicológico ideal que esperamos de um animal na fase inicial de treinamento.

Desvios de comportamento do tipo aerofagia, ranger de dentes, roer madeira, balançar de pescoço e morder freio, são indesejáveis num cavalo de performance, embora existam muitos animais nessas condições produzindo índices e ganhando prêmios em competições.

Material humano empregado no treinamento - O emprego de profissionais especializados é de fundamental importância, pois eles possuem um "sexto sentido" nato, que normalmente não é encontrado em todo mundo que gosta de cavalos. Pessoas que têm contato com animais no seu dia a dia, vão saber interpretar as informações acima e apontar com segurança os indivíduos que devem prosseguir, retroceder ou interromper um treinamento. Fazendo o proprietário investir somente em quem for viável.



Com esse pensamento, todos os cavalos Quarto de Milha, por exemplo, independentes da linhagem a qual fazem parte, têm condições de serem avaliados em pé de igualdade. No entanto, ao se observar o genótipo, aumentam as chances de acerto na hora da compra. Mas o que vem a ser um pedigree? Nada mais que um indicativo de que irmãos, pais ou avós foram acasalados intencionalmente com um determinado objetivo; se afastando ou se aproximando de resultados significativos.

Sendo assim, o que no pedigree dos famosos indica uma "aptidão nata", no dos menos conhecidos é bom lembrar, que não existe nada que possa reprova-los na função; só a falta de tentativa e a falta de visão.